ENTREVISTA com Luís Oliveira o grande vencedor do “Oh Meu Deus”, prova de 100 milhas (160 km) pela Serra da Estrela
Luís Oliveira: «"Oh Meu Deus", como foi possível vencer esta prova?»
Luís Oliveira foi o grande vencedor do "Oh Meu Deus", prova de 100 milhas (160 km) pela Serra da Estrela. Publicamos entrevista com o guarda prisional que encontra paz nas montanhas por onde corre.
Antes de tudo, imaginava vencer a prova?
Em sonhos e durante os treinos de preparação, sim. Tento elevar a motivação e procuro criar um cenário de máximo sucesso no período de treinos para me manter motivado nos treinos. Conscientemente, não! Embora eu seja esforçado e resiliente, sei das minhas capacidades. E como treino 100% sozinho, sem qualquer apoio como planos de treino, PT de reforço muscular, nutricionista, etc. e sem "miminhos" durante a prova com uma equipa de apoio, para mim vencer uma prova de 100 milhas só mesmo em sonhos.
Mas a vitória esteve sempre presente na sua mente durante a prova? Se não, quando começou a acreditar ser possível?
Bem, a prova iniciou como todas em que participo. Procuro treinar o melhor que posso, consigo e sei. Na prova... sigo igual! Os mesmos ritmos e sem receio de quem lá vai. Por isso, foi uma surpresa ir a dar conta de que seguia sozinho na frente.
No abastecimento dos 60k pensei que, se aproximasse alguém, teria de dificultar. Mas, na chegada à Torre, sim, acreditei que tinha a meta demasiado perto e por isso tinha que apertar.
A partir da Colónia de Férias, aos 134k, já não pensava poder perder esta grande oportunidade, foi quando tive 100% de confiança na vitória.
No final, disse «Oh, Meu Deus» por ganhar ou pela dificuldade do percurso?
Tive conhecimento desta prova nos meses que antecederam a edição de 2014. Li um artigo numa revista de desporto emprestada por um amigo. Acabara de participar nos 50k de Sicó e trouxe comigo um grande empeno. Depois de 50k e o difícil que se mostrou, pensar em 160k... "Oh Meu Deus"!
Andei o dia inteiro a sorrir e a desejar ter coragem para lá ir. Fui em 2016 e fiz 26h32, quarto da geral com o Humberto Vara (juntos desde os 36k).
O meu "Oh Meu Deus" foi de «"Oh Meu Deus", como foi possível vencer esta prova?» Mas a verdade é que a dificuldade, desta vez, foi menos dura, talvez por estar melhor preparado.
Satisfeito com o seu resultado final em termos de tempo?
Melhorei em relação à edição de 2016. Ainda em relação a 2016, a prova teve um maior grau de dificuldade, com mais altimetria e com mais percursos técnicos. Não é um tempo de prova excelente, mas estou satisfeito. Dei o meu melhor.
Como definiria o percurso em si? O que poderia falar sobre ele?
Tentei estudar o gráfico de altimetria do percurso e foi uma dura surpresa percorrê-lo. As subidas prolongadas, o piso com demasiadas pedras que obrigavam a uma concentração constante, aldeias e rios lindíssimos, trilhos novos nas encostas muito técnicos, num sobe e desce espetacular e uma extraordinária carta de divulgação do muito que as terras da Serra da Estrela têm para oferecer. Há locais que quero revisitar como turista.
Como dividiu a sua corrida? Qual foi a sua estratégia?
A estratégia nos treinos foi dividir em 3 partes. A primeira parte, até aos 60k, tentar gerir e chegar em 8h00 de prova. Dos 60k aos 124k a segunda parte e a terceira parte da Torre até à meta. Curiosamente, durante a prova, a progressão correu bem e em sintonia com o que planeara. Como referi atrás, a motivação foi surgindo em especial nestes pontos, 60k e 124k, onde acabei por sentir que era possível cortar a meta com direito a fita.
Hoje, o que recorda da prova? Os momentos mais positivos e aqueles que gostaria de não ter passado?
Vão surgindo flashs de diferentes locais e situações...
Do cão da Serra que nos queria morder; dos km perdido do percurso, por distração; do bem que fui recebido nos abastecimentos; da sandes de presunto com marmelada que me oferecerem em Sobral de S. Miguel; das paisagens lindíssimas junto aos rios; das visitas inesperadas de alguns amigos que me surpreenderam e motivaram.
O menos bom foi apenas uma parte do percurso após os 104k, na subida em direcção à Torre, que estava mal marcada, o que obrigou uma concentração adicional.
No entanto, no cômputo geral, adorei a prova e não digo isto pelo resultado. Adoro a Serra da Estrela!
Na quinta-feira, a segunda parte da entrevista, com Luís Oliveira a abordar como foi a passagem do asfalto para o Trail, por exemplo.
Entrevista publicada em: https://corredoresanonimos.pt/actualidade/entrevistas/luis-oliveira-oh-meu-deus
FOTOS: Organização Oh Meu Deus / Matias Novo / Paulo Nunes