HÁ MUITO A CORRIGIR E MUITO MAIS A FAZER
Muito se fala
das alterações do clima, agora sentimo-las e cada vez mais. Os muitos efeitos destas
alterações notam-se bem, sejam na frequência das elevadas temperaturas, sejam
no deflagrar contínuo dos incêndios ou mesmo da falta de água, ou seca severa que
nos aflige e muito nos angustia. Tudo isto tem efeitos na nossa sobrevivência,
dando origem a um meio ambiente cada vez mais adverso, porque o destruímos e
não somos competentes para o recompormos.
Precisam-se orientações, muitas nos comportamentos, sobretudo informações claras para adaptação à realidade adversa que teremos de enfrentar...
O ano de 2022 também fica assinalado pela elevada taxa de mortalidade que superou a média do País e até mesmo a dos Países da Europa.
Espera-se, das autoridades de saúde, que nos digam algo de científico e não apenas teórico, que, de alguma forma, sirva para tranquilizar uma sociedade em permanente sobressalto devido, também, à inflação, à pandemia, ao calor excessivo, à guerra, ao empobrecimento, a que se junta agora o drama e a tragédia anual que os incêndios provocam nas áreas rurais neste abandonado Interior de Portugal.
De facto, todos os anos se repete esta imensa fogueira que destrói uma parte do País e queima ingloriamente riqueza, transforma o ambiente e coloca, repentinamente, tanta família em desespero, tragédia e pobreza.
Há dezenas de anos que este caos se repete, agora com outra dimensão e outras consequências.
Não se tem passado de palavras vãs e promessas irrealizáveis, logo esquecidas mal o efeito da comunicação social desaparece dos ecrãs televisivos e a voz dos atingidos pelos dramas deixa de ter expressão pública.
O fogo destrói, arruína, traz a miséria e a pobreza. É difícil controlá-lo e muito mais combate-lo. Sabe-se quão difícil é a missão dos Bombeiros, por quem todos clamam no momento da tragédia. Dói ver e saber da incapacidade de ajudar e acorrer a todas as situações, apesar dos meios cada vez mais numerosos mas, aparentemente, nem sempre bem usados ou eficazmente rentabilizados, como seria de esperar.
Há cinco anos, a zona centro e concelho de Seia foram devassadas pelo fogo de 17 de Outubro. O que foi feito na gestão florestal da parte ardida e na prevenção? Que promessas foram realizadas e cumpridas na florestação dos terrenos que já só têm mato e vegetação para queimar novamente e ciclicamente.
Nem cinco anos passaram e já uma parte voltou a arder, desta vez pondo em risco as povoações de Travancinha, Sameice e Pereiro.
Quais as medidas, concretizadas no terreno, quanto à prevenção e / ou que dificultassem o deflagrar do fogo, a sua progressão pelos poucos terrenos agricultados e florestais existentes? Pode haver algumas, mas não as conhecemos, tão eficazes quanto necessárias, e de resultados práticos visíveis, sobretudo nesta parte do chamado baixo concelho de Seia.
Os meios até poderão existir, mas serão bem usados?
Lemos e ouvimos muitos elogios, alguns justos, mas vimos no ataque a este incêndio muitos meios, mas também vimos situações de que não gostamos. Ver, como por exemplo, no final da tarde do dia 14 de Julho (20 horas), quando circulavam em andamento muito veloz, sete viaturas todas seguidas, sendo apenas duas delas pertencentes aos Bombeiros, e que assinalavam a sua marcha enquanto cinco outras transportavam algumas poucas pessoas. Vimos, mais à frente, mais cinco caracterizadas viaturas das autoridades mas paradas, em grupo, possivelmente para os seus tripulantes conversarem sobre a situação, enquanto ao mesmo tempo um heli e uma equipa de combate procurava evitar a aproximação das chamas às casas, na povoação do Pereiro. Os meios, pelo menos de viaturas, eram visíveis...
Muitas pessoas e muitas viaturas na área do fogo, mas não directamente ocupadas na frente do fogo, que, todavia, parecia estar dominado àquela hora.
A zona ora ardida terá, agora, mais dificuldade de regeneração florestal, pois as árvores que voltaram a arder ainda não deram sementes, nem mesmo o mal amado eucalipto.
Como viver sem árvores, que nos disponibilizem a humidade e retenção da água ou a purificação do ar que respiramos continuadamente?
O mesmo pode acontecer a outras zonas do País. O pior é que caminhamos, apressadamente, para a desertificação de uma boa fatia do País e de onde o Ser Humano vai fugindo cada vez mais, acelerando a desumanização da paisagem.
Precisam-se decisões urgentes, não apenas palavras e conselhos.
E ENTÃO... GIRABOLHOS?
"A aposta nas
renováveis é decisiva", disse o Senhor Primeiro Ministro António Costa,
responsável pelos destinos do País, e acrescentou que "Portugal não tem tempo a
perder!" Ora, em Girabolhos já se perdeu muito tempo e esperamos confiadamente
por variadas razões que, a absurda decisão que emperrou este investimento
energético e armazenagem de água, seja revertida, urgentemente, para bem da região
mas, sobretudo, do clima, do meio ambiente e das condições de vida de quem
ainda por cá vive.
por: Alcides Henriques