UM OUTRO JEITO… PARECE OPORTUNO!
Por: Alcides Soares Henriques
Além da família, a sociedade portuguesa, no país no estrangeiro etambém em Seia, consolida a sua estrutura e identidade, entre outras, na cultura popular e tradicional e nos princípios da Igreja.Estes dois aspectos, influentes, apesar da erosão que têm vindo a sofrer, são ainda elementos base e consistentes na organização da população, na sua identidade e até da unidade do povo.
Há quem lhe tenha chamado o "cimento da nação Portuguesa".
Na sociedade Senense, a cultura popular e respectivas instituições,bem como os valores e práticas religiosas católicas alicerçam as estruturas orgânicas e doutrinais.
Estes são, provavelmente, dois dos mais importantes esteios sociais.Antes desta época e da grande incerteza que a caracteriza, além do festival e da Feira do Carnaval, eram as marchas de São João e as Festas da Padroeira, designadamente a Procissão de 15 de Agosto, duas manifestações / actividades que mais cativavam as pessoas e as congregavam em Seia em percentagem elevada.
As medidas de protecção à saúde, impostas nestes dois anos,afectaram algumas estruturas, suspenderam as actividades e a participação dos cidadãos. As consequências ainda se não conhecem bem, temendo-se, porém, muito pelo completo restauro dessas dinâmicas perdidas, ou suspensas, das actividades ou até pela sobrevivência, sobretudo das instituições culturais e recreativas, onde a resiliência / subsistência económica é notoriamente difícil.
Aproximam-se "tempos novos" e até ciclos a que devem corresponder a atitudes e dinâmicas diferentes e algo exigentes. É desejável que a nossa cultura local se deverá preocupar com algo mais que o esgotado certame anual do cinema, cujos recursos aplicados não se reproduzem no nosso meio, e onde o envolvimento humano local, não será superior a umas dezenas de pessoas e durante alguns curtos meses.
Longe disto não andará o resultado prático do festival de música que pouco "toca" à grande maioria das pessoas, dada a sua especificidade.
Noutras épocas, a cidade era palco de um espectáculo digno,proporcionado pela Orquestra das Beiras que recentemente abrilhantou com êxito os espectáculos de André Bocelli no Estádio Cidade de Coimbra.Deixou de ter lugar em Seia esta oferta de música clássica...
O paradigma cultural actual já não tem o relevo de outrora. Faltam iniciativas e novas ideias.
Estas dificuldades poderão ser colmatadas copiando os bons modelos e exemplos que os outros levam a efeitos, talvez com menos encargos e melhores resultados.
O novo paradigma jamais poderá subvalorizar essa cultura popular e genuína que ainda vai existindo (até quando?) nas Associações, nas escolas de Música locais, no Folclore e até no Teatro.É fundamental, sobretudo na época que atravessamos que seja dada a atenção (muito mais atenção) a essa vertente tradicional enraizada nas comunidades, não como um favor de qualquer natureza mas baseada num plano objectivo de âmbito social e cultural que envolva a sociedade (sem estigmas ou escolhas) com tudo aquilo que lhe deve ser por direito concedido e assegurado.
Reflectindo sobre outro aspecto já referido, nota-se algum défice na comunicação que nem sempre chega bem ao receptor.
Umas vezes porque os novos meios não estão ao alcance da maioria a quem se destinam, outras vezes por comodismos ou qualquer dificuldade essa informação não é procurada nos meios que a facultam.
A oralidade ou a escrita tradicional são, provavelmente, os meios de comunicação mais eficazes para chegarem à camada populacional mais idosa e com hábitos arreigados. Haverá, como é natural, algum "desgaste" nos movimentos religiosos. A doença, a idade, a desabituação, mas sobretudo esta pandemia paralisou, inicialmente, algumas dinâmicas já rotinadas e posteriormente afastou e desmotivou outras.
O trabalho é agora árduo, sabe-se bem, e como diz a Escritura Sagrada: "a seara é grande e os trabalhadores são poucos" ou "cada vez menos..."
Julgamos que será oportuno e desejável alguma dinamização, a começar pelo canal para a mensagem destinada a chegar às pessoas, sobrevalorizando a acção pastoral e uma maior agregação nos diversos movimentos.
A prevalência dada, através das redes sociais, à vertente social, sendo importante e necessária, não deve afastar nem sobrepor-se às outras missões da Igreja.
Para a saída deste tempo difícil, há desafios que todos devemos enfrentar. Pelo menos terá que lhe ser dado um jeito...! Agora que um novo tempo se iniciou, é oportuno qualquer incentivo ou ajuda.