"Não há razão para temer exploração de lítio se empresa tiver idoneidade"

04-10-2021

O professor catedrático António Mateus, defendeu, em entrevista à Lusa, que "não há razão para temer" a exploração de lítio em Portugal, se forem asseguradas a competência e capacidade técnica, bem como a idoneidade da empresa que a fizer.


Admitindo que a indústria mineira é vista como uma atividade "necessariamente suja" e "perigosa", António Mateus lembrou que os processos e tecnologias utilizadas não são os mesmos de há 50 anos.

"Claro que há empresas que prevaricam, mas isso não é exclusivo da indústria mineira, portanto, não avaliemos a 'performance' e o desempenho da indústria como um todo, pelo fato de haver um ou dois agentes a prevaricar aqui ou acolá", considerou o professor catedrático.

"Se as coisas forem feitas com o devido cuidado - uma vez mais isto é muito, muito importante -- [...] Se todos cumprirem a sua parte do processo, se houver uma corresponsabilização no processo, estou perfeitamente convencido de que é viável, com a vantagem de podermos subir na cadeia de valor", acrescentou.

Assim, o especialista na área da mineralogia, geoquímica e metalogenia vê com bons olhos os planos do Governo para que haja continuidade no processo da exploração de lítio, isto é, que não se fique pela exploração, instalando também em Portugal unidades de refinaria daquele metal.

"O valor investido é brutal e, portanto, há condições para aplicar boas tecnologias, assim o recurso esteja devidamente caracterizado, assim haja um plano de lavra - é assim que nos chamamos na linguagem técnica - um plano de exploração que seja sustentável", reiterou.

Quanto à oposição que os planos para a exploração mineira de lítio em Portugal têm recebido por parte das localizações das áreas com potencial identificado e de grupos ambientalistas, o especialista considerou que "as pessoas vivem debaixo de um discurso de medo, que provoca terror".

"Hoje em dia as pessoas preocupam-se com coisas que têm toda a legitimidade para se preocupar, mas nós não podemos tomar uma decisão sem termos a informação necessária para o efeito", afirmou.

Sublinhando que a indústria mineira tem vantagens e desvantagens, António Mateus considera necessário ponderação e "assegurar que as componentes menos positivas sejam cada vez menores, para valorizar as componentes mais positivas".

"Eu não quero ter exploração mineira em tudo quanto é sítio, mas gostaria de ter em Portugal, por termos condições para o efeito, mais três ou quatro explorações e, sobretudo, a capacidade de crescer na cadeia de valor", acrescentou.

No entanto, o professor diz ver cada vez mais ingerências por parte de associações, "que até inventam". "Até a febre tifoide a exploração do lítio na Argemela iria provocar, o que é uma coisa perfeitamente absurda", disse.

LUSA

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Currículo Resumido

António Manuel Nunes Mateus é professor catedrático no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, desde 2006. Os seus interesses científicos desenvolvem-se sobretudo nos domínios de interface entre a mineralogia, geoquímica e metalogenia. Obteve o doutoramento na Universidade de Lisboa em 1995. Foi vice-presidente do Conselho Científico da FCUL (2000-02), vice-presidente do Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (INETI, 2003-04) e presidente do Departamento de Geologia da FCUL (2007-09). Entre 2013-15 foi pesquisador visitante especial na Universidade de São Paulo (USP, Brasil). É membro do Operational Group 1 (Exploration) of the European Innovation Partnership on Raw Materials (EIP-Raw Materials), do Technical Support Group on Portuguese Priorities for the 1st Calls of Horizon 2020 under the Societal Challenge Climate Action, Resource Efficiency and Raw Materials, e do Ad hoc Working Group on Critical Raw Materials, representando Portugal, European Commission (Enterprise and Industry Directorate-General).

NOTA DA REDACÇÃO:

"Estudo desenvolvido pela Universidade do Minho estima que o efeito multiplicador na riqueza gerada na região onde haverá extração de lítio, ao longo da vida do projeto, possa resultar em 1.300 postos de trabalho no decorrer dos 12 anos da sua vida útil".


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