REATANDO AS PRÁTICAS DOS ACTOS COM CERTA ANSIEDADE E, OUTRAS, COM TÍMIDO SAUDOSISMO
Depois
da suspensão das actividades públicas e da interrupção de muitos dos hábitos e
acontecimentos ligados às tradições, à cultura e, sobretudo, às cerimónias
religiosas, estas estão, lentamente, a ser retomadas, perante a influência, nas
pessoas, do que ficou no espírito. E, no fundo, apelando a um tão desejado
regresso, mas, com naturais dificuldades...
Isto foi particularmente sentido durante a maior semana que, para os crentes, é a Semana Santa. O seu início no Domingo de Ramos, levou a Igreja Nova a encher-se de fieis, como há muito não se via.
Revivendo assim o simbolismo descrito na liturgia da palavra, que descreve a entrada triunfante de Cristo em Jerusalém, cidade esta que, porém, cinco dias depois o condenou à morte por Cruz...
O espírito da Paixão foi sentido, ou traduzido, na rua, através da participação na tradicional Procissão do Enterro do Senhor, que percorreu as artérias da zona histórica, ao som dos acordes, melancólicos e adequados ao acto, da Banda de Carragosela e que regressou, lentamente, à Igreja da Misericórdia, suprimida, embora, de certas participações habituais.
Não terá, ainda assim, acorrido o habitual numeroso público, nem terá estado presente o espírito semelhante ao que era antes da Pandemia, mas o simbolismo da cerimónia estava estampado nas pessoas participantes ou até nos meros observadores.
A tristeza e a dor da Sexta Feira Santa foram substituídas, no Domingo, pela alegria e tom festivo de Páscoa, neste dia habitualmente exteriorizado (que inexplicavelmente não sucedeu no passado Domingo) durante o percurso do Senhor Ressuscitado entre as Igrejas Matriz e Nossa Senhora do Rosário, caminhando pela maior e mais moderna artéria da cidade, com reduzido acompanhamento e sem Banda, o que lembrou, com nostalgia, outras épocas.
Faltou, também, o badalar "repicado dos sinos dos seus altos campanários", projectando-o longe a alegria da Páscoa e o Triunfo sobre a Morte que o dia Evoca, num soalheiro dia de Primavera bem florida e quente, onde até a natureza exalava um agradável aroma, vindo do meio envolvente.
Tudo isto fez lembrar o Compasso Pascal que, há muito, deixou de se realizar nesta Paróquia.
Não será fácil retomar a prática, dada as circunstâncias dos tempos actuais e dos hábitos citadinos, entretanto criados, mas, talvez, fosse viável um certo modelo adaptado às características dos tempos em que vivemos. Tentar repor algo simples até, mas ajustado, e ouvidas as pessoas, poderá ser uma probabilidade a considerar.
A propósito de actos em desuso, alguém, desde novo ligado à vida da Igreja, manifestou a vontade de ver a reintrodução dos toques do sino da manhã, do meio dia e das Trindades.
A tecnologia, talvez, permita programar estes simbolizantes sons no horário tradicional, dispensando o emprego do esforço manual e o incómodo humano. Se for viável porque não?
Precisa-se de iniciativa e de algum esforço dinâmico em certas ocasiões e actos para ser restaurado o que ainda for possível.
Alcides Henriques